Em
1450[1], Jheronimus van Aken
nasceu em s’Hertogenbosch, uma cidade da Flandres, da actual Holanda, que deu
origem ao seu pseudónimo, Bosch, que significa bosque em português. Por esta mesma
altura, ali se construía a Catedral de São João, que vai albergar um conjunto
de confrarias, como a Confraria de Nossa Senhora, a que Bosch pertenceu até à
sua morte. São os livros de contas desta mesma confraria que nos vai dar a
informação mais concreta da vida e obra de Bosch, assim como a data exacta em
que morre.[2]
A
adesão de Bosch à Confraria da Nossa Senhora[3] fez-se por volta de
1486-87, porém desconhece-se grande parte da sua vida desde o seu nascimento
até à entrada nesta congregação. Conjectura-se que tenha aprendido a actividade
com o seu pai, Anthonius van Aken, e este, também pintor, por sua vez, tenha
aprendido com o seu pai, avô de Bosch, Jan van Aken. O apelido desta geração de
pintores indica-nos a proveniência destes da Alemanha, e no início do século XV
vemos o avô de Bosch a estabelecer-se em s’Hertogenbosch. A primeira referência
segura desta família na cidade é em 1430-31, exactamente do avô de Bosch, que
vai falecer nesta mesma em 1454.
A
rondar a data da morte do seu pai, Bosch casa com Aleid van den Meervenne,
provavelmente[4]
alguns anos mais velha que ele e portadora de uma grande fortuna, que o leva a
ascender a uma vida social bastante confortável.
Em
relação à sua obra, Bosch faz vários trabalhos para a Confraria da Nossa
Senhora, exigindo modestos pagamentos. Em 1480-81, o livro de conta mostra a
encomenda de dois painéis, em 1493-94, um vitral, em 1511-12, um crucifixo, e
em 1512-13 um candelabro. Em 1488, consegue entrar para a Confraria, estando
cada vez mais envolvido na irmandade, onde conheceu figuras importantes que o
acompanharam durante a sua vida: o arquitecto e gravador Alaert Du Hameel, que
dirigiu as obras da Catedral de São João e gravou muitos desenhos de Bosch, e
Jacob van Almaengien, uma personagem de inspiração na obra de Bosch.[5]
Só
uma encomenda é conhecida, a de Filipe, O
Belo, duque de Borgonha, em 1504. Segundo o documento encontrado nos
arquivos de Lyon, a obra devia apresentar o Juízo Final, o Paraíso e o Inferno.
Recebeu por esta obra trinta e seis libras. Infelizmente, esta obra perdeu-se e
não chegou até nós.
Vários
são os autores que fazem a divisão da vida e obra de Bosch em três fases: pouco
depois de 1450 até 1475 e um algum tempo antes de 1516, o ano da sua morte. A
grande dúvida incide sobre o período que medeia o nascimento e a morte do
pintor: Charles de Tolnay fixou-o em 1480 e 1510, Jacques Combe em 1485 e 1505
e o catálogo da exposição da obra de Bosch, realizada em Bois-le-Duc em 1967
indica 1485-90.
No
primeiro período inserem-se obras realistas como: Adoração dos Magos em Filadélfia, Ecce Homo de Francoforte, Cruz
às Costas de Viena de Áustria, o Prestidigitador,
as Bodas de Canaã e a Extracção da Pedra da Loucura.
O
período intermédio de Bosch engloba obras como: A Nave dos Loucos,
e os seus trípticos (O Carro de Feno,
o Jardim das Delicias, As Tentações de Santo Antão).
O
terceiro período de Bosch é marcado por uma mudança de estilo, e temos obras
como: A Adoração dos Magos do Prado, O Porte da Cruz de Gante e o Filho Pródigo.
[1] O ano de 1450 é apontado pela grande
parte dos autores como o período em que o pintor nasceu, assim como apontam
1480 como o ano em que este começou a sua actividade, após ter concluído a
aprendizagem do ofício com o seu pai.
[2] «Obitus fractrum, a. 1516, Hieronymus
Aquen, alias Bosch insignis pictor» in
LEITE, José Roberto Teixeira, Jheronimus
Bosch, Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 1956, p. 44
[3] «Pois bem, quanto à Confraria de
Nossa Senhora, era esta uma irmandade à qual Jheronimus devotava extrema
dedicação e afecto. Porque o seu pai e o seu avô, também artistas, já a ela
haviam pertencido, porque a mesma se encontrava sedeada numa capela adstrita à
Igreja de São João, e porque também ele havia executado vários trabalhos
artísticos para ela. NEVES, Pedro Teixeira, Uma
visita a Bosch, Temas e Debates, Lisboa, 2003, p. 94
[4] Segundo Walter Bosing, Aleid era
alguns anos mais velha, enquanto para José Augusto França, Aleid e Bosch tinham
a mesma idade, ou seja, vinte e cinco anos quando casaram. Em relação à morte
de Aleid também há opiniões diversas. José Roberto Teixeira Leite defende que
Aleid morreu cinco anos depois de Bosch, porém José Augusto França fala em
quinze anos.
[5] «Segundo Fraenger,
Jacob van Almaengien teria guiado Bosch na floresta assombrada pelos símbolos
esotéricos e seria responsável, senão o cliente das suas obras «fantásticas e
bizarras». Trata-se de uma hipótese, altamente fascinante, que deve ocupar-nos
mais adiante.» in FRANÇA, José Augusto, Bosch ou “o visionário integral”, Chaves Ferreira, Lisboa, 1994, p.
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