quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Hieronymus Bosch - Biografia

Em 1450[1], Jheronimus van Aken nasceu em s’Hertogenbosch, uma cidade da Flandres, da actual Holanda, que deu origem ao seu pseudónimo, Bosch, que significa bosque em português. Por esta mesma altura, ali se construía a Catedral de São João, que vai albergar um conjunto de confrarias, como a Confraria de Nossa Senhora, a que Bosch pertenceu até à sua morte. São os livros de contas desta mesma confraria que nos vai dar a informação mais concreta da vida e obra de Bosch, assim como a data exacta em que morre.[2]
A adesão de Bosch à Confraria da Nossa Senhora[3] fez-se por volta de 1486-87, porém desconhece-se grande parte da sua vida desde o seu nascimento até à entrada nesta congregação. Conjectura-se que tenha aprendido a actividade com o seu pai, Anthonius van Aken, e este, também pintor, por sua vez, tenha aprendido com o seu pai, avô de Bosch, Jan van Aken. O apelido desta geração de pintores indica-nos a proveniência destes da Alemanha, e no início do século XV vemos o avô de Bosch a estabelecer-se em s’Hertogenbosch. A primeira referência segura desta família na cidade é em 1430-31, exactamente do avô de Bosch, que vai falecer nesta mesma em 1454. 
A rondar a data da morte do seu pai, Bosch casa com Aleid van den Meervenne, provavelmente[4] alguns anos mais velha que ele e portadora de uma grande fortuna, que o leva a ascender a uma vida social bastante confortável.
Em relação à sua obra, Bosch faz vários trabalhos para a Confraria da Nossa Senhora, exigindo modestos pagamentos. Em 1480-81, o livro de conta mostra a encomenda de dois painéis, em 1493-94, um vitral, em 1511-12, um crucifixo, e em 1512-13 um candelabro. Em 1488, consegue entrar para a Confraria, estando cada vez mais envolvido na irmandade, onde conheceu figuras importantes que o acompanharam durante a sua vida: o arquitecto e gravador Alaert Du Hameel, que dirigiu as obras da Catedral de São João e gravou muitos desenhos de Bosch, e Jacob van Almaengien, uma personagem de inspiração na obra de Bosch.[5]
Só uma encomenda é conhecida, a de Filipe, O Belo, duque de Borgonha, em 1504. Segundo o documento encontrado nos arquivos de Lyon, a obra devia apresentar o Juízo Final, o Paraíso e o Inferno. Recebeu por esta obra trinta e seis libras. Infelizmente, esta obra perdeu-se e não chegou até nós.
Vários são os autores que fazem a divisão da vida e obra de Bosch em três fases: pouco depois de 1450 até 1475 e um algum tempo antes de 1516, o ano da sua morte. A grande dúvida incide sobre o período que medeia o nascimento e a morte do pintor: Charles de Tolnay fixou-o em 1480 e 1510, Jacques Combe em 1485 e 1505 e o catálogo da exposição da obra de Bosch, realizada em Bois-le-Duc em 1967 indica 1485-90.  
No primeiro período inserem-se obras realistas como: Adoração dos Magos em Filadélfia, Ecce Homo de Francoforte, Cruz às Costas de Viena de Áustria, o Prestidigitador, as Bodas de Canaã e a Extracção da Pedra da Loucura.
O período intermédio de Bosch engloba obras como: A Nave dos Loucos, e os seus trípticos (O Carro de Feno, o Jardim das Delicias, As Tentações de Santo Antão).
O terceiro período de Bosch é marcado por uma mudança de estilo, e temos obras como: A Adoração dos Magos do Prado, O Porte da Cruz de Gante e o Filho Pródigo.




[1] O ano de 1450 é apontado pela grande parte dos autores como o período em que o pintor nasceu, assim como apontam 1480 como o ano em que este começou a sua actividade, após ter concluído a aprendizagem do ofício com o seu pai.
[2] «Obitus fractrum, a. 1516, Hieronymus Aquen, alias Bosch insignis pictor» in LEITE, José Roberto Teixeira, Jheronimus Bosch, Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 1956, p. 44
[3] «Pois bem, quanto à Confraria de Nossa Senhora, era esta uma irmandade à qual Jheronimus devotava extrema dedicação e afecto. Porque o seu pai e o seu avô, também artistas, já a ela haviam pertencido, porque a mesma se encontrava sedeada numa capela adstrita à Igreja de São João, e porque também ele havia executado vários trabalhos artísticos para ela. NEVES, Pedro Teixeira, Uma visita a Bosch, Temas e Debates, Lisboa, 2003, p. 94
[4] Segundo Walter Bosing, Aleid era alguns anos mais velha, enquanto para José Augusto França, Aleid e Bosch tinham a mesma idade, ou seja, vinte e cinco anos quando casaram. Em relação à morte de Aleid também há opiniões diversas. José Roberto Teixeira Leite defende que Aleid morreu cinco anos depois de Bosch, porém José Augusto França fala em quinze anos.
[5] «Segundo Fraenger, Jacob van Almaengien teria guiado Bosch na floresta assombrada pelos símbolos esotéricos e seria responsável, senão o cliente das suas obras «fantásticas e bizarras». Trata-se de uma hipótese, altamente fascinante, que deve ocupar-nos mais adiante.» in  FRANÇA, José Augusto, Bosch ou “o visionário integral”, Chaves Ferreira, Lisboa, 1994, p. 19 

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