terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pelos caminhos da Europa

Viajar. Esta palavra deverá, com toda a certeza, ter várias conotações para os mais variados tipos de pessoa, mas para mim é liberdade, é entrega, é conhecimento, é aventura, e é... bem podia ficar nisto a noite toda. Tal como os livros, viajar é um grande amor da minha vida.


A minha mais recente viagem foi à Polónia, mais concretamente à capital, Varsóvia, ao campo de concentração Auschwitz-Birkenau e à cidade do papa João Paulo II, Cracóvia. 

Bem, a primeira diligência foi, sem dúvida, um carro. Há várias opções para ir até Auschwitz-Birkenau, mas como viajar é liberdade, e não consigo visualizar melhor maneira de ser livre do que viajar num carro só para mim, o meu namorado e um GPS muito urso (que nos fez perder 3 km depois de sair do Aeroporto), peguei no meu Volkswagen Up alugado e lá fui eu. 

O hotel só ficava a 6 km do Aeroporto Frédéric Chopin, e, não sei bem como, pois se já foram a Varsóvia sabem que a avenida que liga a cidade ao aeroporto é completamente direita e óbvia, perdi-me com a ajuda persistente do meu GPS, mais conhecido por urso!

A segunda aventura do dia foi fazer compras num supermercado muito tradicional, onde o inglês é uma língua muito estranha, como o finlandês para os portugueses. Não conhecia a moeda, o que foi um desastre fazer perceber a senhora que ela se tinha enganado no troco, por sua vez ela achava que não tinha, e explicava muito feliz naquele seu polaco perfeito. Enfim!

A terceira aventura do dia, e não menos estúpida, foi a visita a um museu no centro histórico (http://www.zamek-krolewski.pl/en). O fantástica site não tinha os horários actualizados e cheguei mesmo na hora que estava a encerrar. Bem, fiquei pela excursão ao centro histórico da cidade, mas esta revelou-se bastante pobre de visualizações tirando algumas ruas mais típicas.






Ao segundo dia, estava pronta para recomeçar, agora já com as energias renovadas. Ainda assim, o senhor urso fez-me perder 6 km depois de iniciar a marcha e, foi assim, que simplesmente decidi mudar de mapa. Quatro horas e 300 km depois cheguei a Auschwitz-Birkenau. Nem queria acreditar!

Quem for visitar Auschwitz-Birkenau fica desde já está avisado que a visita guiada começa em Birkenau. Não façam como eu, que comecei em Auschwitz. Em Birkenau encontramos o museu, onde estão expostos os tão conhecidos pertences das vítimas e a partir daí a guia acompanha o grupo no autocarro até Auschwitz. Do museu ao campo de concentração são cerca de 3 km. Para entrar em Birkenau sem pagar por um guia tem que entrar antes das 10h ou depois das 15h, mas em Auschwitz pode entrar a qualquer hora do dia. Há vários idiomas à escolha dos visitantes, mas nem todos tem horários flexíveis, tendo apenas uma visita acompanhada por dia. As visitas guiadas estão estabelecidas, para os que optam pelo inglês, de hora em hora. (http://en.auschwitz.org/m/)

P.S. Se quiserem ir ao WC em Auschwitz, façam-se acompanhar de uns troquitos. No fim de 4 horas de viagem, parecia uma miragem como um oásis no deserto. 













Às 15h, dei por concluída a visita ao campo de concentração Auschwitz-Birkenau. Embora não tenha tido sorte em Auschwitz, tendo feito a visita sem acompanhamento especializado, em Birkenau tive uma guia excelente, que falava um inglês maravilhoso e era muito afável. No fim de um dia na Polónia, qualquer coisa que não fosse polaco, era simplesmente utópico. E sempre que via um espanhol ou um brasileiro, ganhava o dia. 

Segui para a Cracóvia, em mais uma hora de viagem, mas valeu a pena. Ao contrário de Varsóvia, a cidade de Cracóvia é fantástica, cheia de vida. Procedi de imediato ao reconhecimento do local, e o centro histórico é muito alegre à noite, com vendedores de rua, turistas, restaurantes cheios com empregados impecáveis a convidar para entrar. Os souvenirs são incrivelmente baratos e coloquei logo as prendas em dia. 





No terceiro dia, ainda fui ao Castelo Real Wawel (http://wawel.krakow.pl/pl/index.php), mas o dia estava chuvoso e ainda faltavam 4 horas de caminho para chegar a Varsóvia, por isso liguei o meu querido urso e pus-me a caminho. Cheguei por volta das 16 à capital e como ainda faltavam 5 horas para o voo, decidi ir ao Pałac Łazienkowski (http://www.lazienki-krolewskie.pl/), que era gratuito à quinta-fª. 


Às 19h já estava tão cansada, que quando cheguei ao avião, liguei o tablet, coloquei A rapariga que roubava livros a dar e, ao fim de três dias, descansei, sem mapas, sem horários, sem preocupações, enfim. 

Se gostaram ou nem por isso, deixem o vosso comentário. Obrigada!



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

"Diz-me quem és" - Opinião

«Grace Hall é uma socialite deslumbrante, rodeada de glamour, privilégio e riqueza, mas a sua fortuna fez dela o alvo de um louco que anda a matar as mulheres mais influentes de Manhattan. Para se proteger, Grace exige o melhor dos guarda-costas - e depara com muito mais do que esperava. John Smith é um especialista em segurança intransigente e frio que é tão dedicado ao seu trabalho como é mortífero. Mudar-se para o luxuoso apartamento de cobertura de Grace é a última coisa que deseja, mas é impossível dizer-lhe que não. Quando explica as regras à sua nova cliente, surgem entre eles faíscas, bem como um desejo incendiário. Com Grace nos braços, John dá por si a baixar as próprias defesas. À medida que as noites amenas se tornam escaldantes e o assassino se aproxima, Grace e Smith enfrentam uma escolha crucial: seguir as regras ou seguir os seus corações.»


Ficha técnica:
Autor: J. R. Ward
Editor: Quinta Essência
Data de lançamento: Abril de 2012
ISBN: 9789898228918
Nº de páginas: 404

Opinião:
Este foi o primeiro livro que li desta autora e, simplesmente, não estava a contar que fosse nada de especial, mas foi. Um encontro explosivo num baile socialite, onde John Smith é o guarda-costa de um embaixador, e Grace Hall uma convidada, é o ponto partida para esta história.

Grace Hall é uma personalidade importante na sociedade americana e teve, desde sempre, ou assim parecia, a vida perfeita. Contudo, as sucessivas mortes de socialites do seu círculo social, fazem-na contratar um guarda-costa. O que ela não sabia era que o seu guarda-costas seria ele, o homem que a beijou com tanta ferocidade no baile onde ficara a saber mais tarde que a sua amiga tinha morrido degolada no conforto da sua casa.

John Smith já sabia quem era a Grace quando recebeu uma chamada de um cliente antigo para uma reunião com ela, mas o encontro passado entre eles obrigou-o a deixar desde logo as regras bem assentes para evitar dissabores futuros.

O tempo e o espaço estão a favor do casal, pois agora vivem na mesma casa e passam todo o tempo disponível presentes na vida um do outro. E se a atracção já era evidente na festa, agora é impossível resistir a um amor que está pronto a florescer. Ainda assim, Smith não está pronto a ceder a Grace, nem ao seu amor. Para ele, a vida que projecta ter com a socialite parece boa de mais para ser verdade, e no seu íntimo sabe que um dia ela vai acordar e perceber que entre eles foi tudo um grande erro. Simplesmente, não está ao nível dela, por mais que se queira enganar, e o mundo dela não é certamente o mundo dele.

No final, o medo de perder Grace para o assassino das socialites, Frederique, o organizador de festas excêntrico, faz Smith perceber que não pode viver sem ela (nem quer).

"-Sinto muito, John. Mas não acho que haja nada que me possa dizer agora que me convença de que todos os problemas que viu entre desapareceram.
-E que tal isto - Ele esperou até que ela olhasse para cima - Amo-te.

Sobre a autora:
Licenciada em Direito, dedicou vários anos na área da saúde. Recebeu o prémio Rita Award e foi nomeada várias vezes para o prémio Romantic Times. Actualmente, vive nos Estados Unidos com o seu marido. 

domingo, 21 de setembro de 2014

"Prazer Ardente" - Opinião

«Depois de três temporadas em Londres em busca de pretendente, o pai de Daisy Bowman informa-a de que deverá arranjar marido. E depressa. E se Daisy não conseguir desencantar um candidato adequado, terá de se casar com um homem da escolha do pai: o cruel e emproado Matthew Swift. Daisy está aterrorizada, mas uma Bowman jamais admite a derrota. E, por isso, a jovem decide fazer os possíveis para arranjar outro pretendente que não Matthew. Mas Daisy não contava com o charme inesperado de Swift… nem com a sensualidade escaldante que depressa brota entre ambos, acabando por descobrir que, apesar de segredos e intrigas que o destino teima em impor, o homem que sempre odiou poderá ser aquele com que sempre sonhou.»

Ficha técnica:
Autor: Lisa Kleypas
Editor: 5 sentidos
Data de lançamento: Março de 2014
ISBN: 9789897450075
Nº de páginas: 304

Opinião:
Daisy Bowman não queria mesmo casar com o empregado do seu pai, por mais espectacular o seu pai pensasse que ele era. Para ela, Mathew Swift era apenas um saco de ossos, que nem sequer sorria. Para seu espanto, quando ele surgiu à sua frente, nem sequer o reconheceu, pois ja não era um saco de ossos, mas um homem com tudo no sítio.

Mathew sempre foi completamente apaixonado por Daisy e estava totalmente convencido que ela não era para ele. Contudo, Daisy discorda de Mathew e, quanto mais ele foge, mas ela corre atrás, deixando o pobre homem sem hipótese de fugir.

Mas Mathew não é quem diz ser, e o seu passado não o larga, indo de encontro a ele. Daisy, quando descobre que Mathew Swift não é o seu nome verdadeiro e a sua origem não é o que ele dizia que ser, nem pestanejou, e ficou do seu lado, para grande surpresa do seu amado. Juntos, o amor vence tudo!

"- Ao longo dos anos tenho recolhido várias milhares de memórias suas, cada olhar, cada palavra que me dirigiu. Todas aquelas visitas à sua casa de família, os jantares, os dias de festa... mal conseguia aguardar o momento em que passava a porta de entrada e podia finalmente vê-la. (...) A Daisy sempre foi tudo aquilo que eu sempre acreditei que uma mulher deveria ser. E desejo-a desde que a vi pela primeira vez e a cada segundo da minha vida." - pág. 185

Sobre a autora:
Lisa Kleypas, licenciada em Ciências Políticas, publicou o seu primeiro livro apenas com 21 anos. Dos 30 livros que escreveu, traduzidos em várias línguas, sublinhamos Paixão Sublime, Sedução Intensa e Desejo Subtil. Ganhou vários prémios RITA e o prémio RWA (Romance Writers of America).

sábado, 20 de setembro de 2014

O pórtico manuelino da Capela de São Miguel

A primeira referência à Capela de S. Miguel remonta a 1080, quando o alvazir Sesnando, primeiro governador cristão, ao restaurar o que foi destruído pelo Imperador Fernando Magno, em 1064[1], inicia um conjunto de edificações, entre elas encontrava-se a futura Capela de S. Miguel. Quatro séculos mais tarde, com a cedência do Paço ao Infante D. Pedro, Duque de Coimbra, novas campanhas se iniciam, avultando a destruição da capela primitiva e o lançamento do que hoje existe.  
No Paço Real de Alcáçova instalou-se o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, a partir de 1130, nele vivendo igualmente os seus imediatos sucessores.[2] D. Afonso V foi o primeiro rei a retirar-se do paço com a sua corte, deixando este em decadência até ao reinado de D. Manuel I que, em 1507 e segundo projecto de Boitaca, põe em marcha um imponente programa de reforma, concluído apenas em 1533, já no reinado de D. João III, sob as direcções de Marco Pires e Diogo Castilho[3]
D. João II, um monarca que apostou mais na política do que na estética, deixa em testamento o trono ao duque de Beja, D. Manuel, dando-lhe a esfera armilar como divisa e o dever de implementar uma estética em Portugal. O facto de o monarca subir ao trono de forma contornada exigiu deste um programa de legitimação do seu poder, aproveitando os bons ventos da expansão marítima. «Aproveitando o momento mágico da chegada à Índia e da viragem do milénio, D. Manuel I (ou os seus conselheiros) foi capaz de coagular os fragmentos do século anterior dentro de uma mentalidade já moderna, assim forjando a imagem ímpar que impôs como rosto oficial do país: o extravagante «estilo manuelino». Este foi o rastilho perfeito para as cordas, âncoras, velas e conchas dos edifícios manuelinos se associarem aos Descobrimentos[4].
O portal manuelino da Capela de São Miguel foi construído entre 1517 e 1522 por Marco Pires, que faleceu por volta de 1521. Quem prosseguiu com o projecto foi Diogo de Castilho, mas também este arquitecto não completou a obra a encargo. Segundo Pedro Dias, Diogo de Castilho, enquanto mestre das obras, foi bastante apreciado pelo monarca, pois renovou-lhe o vencimento dado no início da nomeação «Diogo de Castilho começou por receber a quantia de 3000 reais por ano, mas, logo três anos depois, o monarca aumentava-lhe o vencimento em mais de 2000 reais.»[5]
Autores como Flórido de Vasconcelos e Jorge Henrique Pais da Silva vão contra a teoria que tenha sido Marcos Pires a elaborar o pórtico e apostam no francês Boitaca, arquitecto que se destacou em Portugal entre 1490 e 1525, já depois de ter falecido o Venturoso, em 1521. Em Coimbra, «De, facto, Boitaca dirigiu as obras de reconstrução deste mosteiro[6], entre 1508 e 1513, sendo-lhe atribuídas também as obras manuelinas dos Paços Reais da cidade do Mondego, onde hoje se encontra instalada a Universidade, cuja capela conserva um pórtico bem no seu estilo.»[7]

Portal manuelino da Capela de S. Miguel
O portal da Capela de São Miguel encontra-se entre duas janelas, dando a sensação de um verticalismo, que se prolonga por estas. Duas bases altas erguem dois contrafortes torcidos, contendo coroas sumptuosas na parte superior e acabamentos piramidais. No interior dos contrafortes está um duplo vão paralelo e um mainel delicado no centro do portal.
Os vãos são emoldurados por três colunelos lisos e dois intercolúnios com motivos vegetalistas estilizados. Os colunelos de dentro prolongam-se até acima em arcos policêntricos, deixando suspenso dois cogulhos e para cima acentuam-se outros motivos vegetalistas. Do colunelo exterior surge um arco trilobulado que se vai encontrando com outros, mas de centros opostos, delineando os três emblemas manuelinos e envolvendo uma rica ornamentação arbórea. Este arco arbóreo forma uma cruz no alto do tímpano englobando o escudete das Cinco Chagas de Cristo.
No tímpano estão as armas reais: o escudo real ao centro, a cruz da Ordem Militar de Cristo[8] do lado esquerdo de quem observa e a esfera armilar no lado direito.[9] Por cima destes elementos simbólicos encontramos três escudetes com símbolos da Paixão de Cristo, como a coroa de espinhos no escudete do lado esquerdo, os cravos no lado direito e em cima as Cinco Chagas de Cristo.
Como foi dito anteriormente, o pórtico encontra-se rodeado por duas elegantes janelas vazadas no muro do pórtico, que formam um arco policêntrico, com suspensos cogulhos nas pontas, fechando em cruz.
Este pórtico cria controvérsia entre os vários autores que escreveram e se debateram sobre ele: para Manuel Mendes Atanázio «De manuelino tem este pórtico pouco, por lhe faltar a virulência e a desordem naturalista de Belém, da Golegã, da Sé da Guarda, ou de Tomar, sacristia de Alcobaça, etc.»[10], contudo para António Vasconcelos «A porta é no seu género dos mais apreciáveis exemplares manuelino, notável entre tantas que o país possue.»[11] Concluímos que, tanto Manuel Mendes de Atanázio como António Vasconcelos avaliam a Capela de São Miguel num estudo comparativo com outros edifícios que sofreram, igualmente, a intervenção do “programa” manuelino.
A nível do pórtico podemos encontrar contrafortes semelhantes aos da Capela de São Miguel, por exemplo, na Igreja Matriz da Golegã e na Sé da Catedral da Guarda, em que estes também são torcidos, ornamentados e rematam em forma piramidal. A verticalidade do pórtico é, também, acentuada neste último exemplo pelas janelas.
Em comparação com outros tímpanos manuelinos podemos constatar que existe apenas uma regra exacta que os aproxima: o escudo régio centralizado. Todos os outros elementos que constituem o manuelino têm uma disposição que varia de edifício para edifício. Ora vejamos estudos de caso: a Igreja da Ega e a Igreja matriz da Golegã têm o escudo ao centro ladeado por duas esferas armilares e encimado pela cruz de Cristo, contudo, algo torna o último exemplo invulgar, a duplicação da cruz de Cristo.
Notamos ainda outro aspecto: a ausência de corais, algas e cordas, e toda uma panóplia de motivos marítimos que permanecem em tantas outras obras manuelinas, como na tão vistosa e apreciada janela do Convento de Cristo. Nesta obra podemos ver não só os símbolos régios defendidos por D. Manuel, como também todo um conjunto de elementos iconográficos ligados ao mar, que nos transportam para um outro tipo de manuelino muito mais confuso, onde se pretende passar várias emoções ao observador. Contudo, o caso de São Miguel não é único, pois temos múltiplos exemplos espalhados pelo país, onde não triunfam os motivos marítimos, como o portal da igreja de Marvila, em Santarém e o portal da Igreja de Palhães. O que nos leva a concluir que não temos uma solução uniforme para cada monumento: cada caso é um caso, embora possa ter semelhanças e diferenças.



[1] Em 1064, a actual Universidade de Coimbra era uma alcáçova edificada por Almançor, em 994, após a conquista da cidade de Coimbra, que foi destruída, no seu flanco Sul, durante a reconquista definitiva da cidade por Fernando I de Castela, cognominado o Magno.
[2] Tanto D. Afonso Henriques como o seu filho, Sancho I foram sepultados na cidade de Coimbra, mais precisamente no Mosteiro de Santa Cruz (no piso inferior do mosteiro), ao contrário do que aconteceu com os seus respectivos pais e avós, que foram sepultados em Braga. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra foi fundado em 1131 por D. Telo e mais onze religiosos. Nesta altura, era o mosteiro mais próximo de um centro político no país. Em 1163, um ano após a morte de D. Telo, foi canonizado, passando a ser São Teotónio.
[3] É no Paço Real de Alcáçova, a mais antiga, e seguramente, uma das mais fascinantes residências régias europeias, já então velho de mais de cinco séculos, que a Universidade se aloja em 1537, por cedência de D. João III, que a transferira de Lisboa, vindo a adquirir o edifício em 1597. Em 1544, todas as Faculdades da Universidade de Coimbra se reúnem no Páteo das Escola
[4] «Essas cordas, que inflamaram a fantasia dos historiadores da arte de outros tempos, tanto aparecem nos barcos como nos carros de bois; as âncoras, que os arquitectos historicistas d século passado repetiram em tantas fachadas, não se encontram em nenhum construção realmente manuelina; as velas mais não estão que na mente de escritores pouco atentos à realidade, e assim poderíamos continuar, dando exemplos do género.» in DIAS, Pedro, A viagem das formas: estudos sobre as relações artísticas de Portugal com a Europa, a África, o Oriente e as Américas, Estampa, Lisboa, 1950 p. 160
[5] DIAS, Pedro, A Arquitectura de Coimbra na Transição do Gótico para a Renascença 1490-1540, EPARTUR – Edições Portuguesas de Arte e Turismo, Lda., Coimbra, 1982, p. 91
[6] Refere-se ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, um monumento, que em 1502, D. Manuel I decide remodelar, e os autores foram, precisamente, Marco Pires e Boitaca. «Em 1502 D. Manuel decide remodelar completamente o velho edifício românico e mandar executar novos túmulos para D. Afonso I e D. Sancho II, obras (igreja, claustro e anexos, capelas e oficinas, etc.) realizadas sob a orientação do prior-mor D. Pedro Gavião (falecido em 1516).» in  SILVA, Jorge Henrique Pais da, Páginas de História da Arte, vol. I, Editorial Estampa, Estudos e Ensaios, nº 53, Lisboa, 1986, p. 79
[7] VASCONCELOS, Flórido de, História da Arte em Portugal, Editorial Verbo, 1972, p. 52
[8] D. Manuel I foi Governador da Ordem militar de Cristo, desde 1483, com sede no Convento de Cristo, monumento também alvo de grandes programas de intervenção.
[9] «Com a esfera armilar, a cruz de Cristo e o escudo real, surgem num sem número de portais do período manuelino, marcados assim pela iniciativa régia que os mandou erigir.» in PEREIRA, Paulo, A Obra Silvestre e a Esfera do Rei – Iconologia da Arquitectura Manuelina na Grande Estremadura, Instituto de História da Arte, Coimbra, 1990, p. 97
[10] ATANÁZIO, Manuel Mendes, O estilo e a iconografia do portal da Capela de S. Miguel, in Universidade (s): história, memória, perspectiva, Comissão Organizadora do Congresso “História da Universidade”, Coimbra, 1991, p. 291
[11] VASCONCELOS, António, Real Capella da Universidade: alguns apontamentos e notas para a sua história, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1908, p. 93

"Amor e Enganos" - Opinião

«Sophie Beckett tinha um plano ousado: fugir de casa para ir ao famoso baile de máscaras de Lady Bridgerton. Apesar de ser filha de um conde, ela viu todos os privilégios a que estava habituada serem-lhe negados pela madrasta, que a relegou para o papel de criada. Mas na noite da festa, a sorte está do seu lado. Sophie não só consegue infiltrar-se no baile como conhece o seu Príncipe Encantado. Depois de tanto infortúnio, ao rodopiar nos braços fortes do encantador Benedict Bridgerton, ela sente-se de novo como uma rainha. Infelizmente, todos os encantamentos têm um fim, e o seu tem hora marcada: a meia-noite. Desde essa noite mágica, também Benedict se rendeu à paixão. O jovem ficou até imune aos encantos das outras mulheres, exceção feita… talvez… aos de uma certa criada, que ele galantemente salva de uma situação desagradável. Benedict tinha jurado tudo fazer para encontrar e casar com a misteriosa donzela do baile, mas esta criada arrebatadora fá-lo vacilar. Ele está perante a decisão mais importante da sua vida. Tem de escolher entre a realidade e o sonho, entre o que os seus olhos veem e o que o seu coração sente. Ou talvez não...»

Ficha técnica:
Autor: Julia Quinn
Editor: ASA
Data de lançamento: Abril de 2013
ISBN: 9789892323060
Nº de páginas: 384

Opinião:
Este é o terceiro livro que leio desta autora, e, tal como A Grande Revelação e Peripécias do Coração, gostei muito. Esta é uma história de encantar, de uma Cinderela, com duas irmãs, uma má, outra menos má, e uma madrasta horrível, Amarinta.

Sophie Beckett, filha ilegítima de um conde, leva uma vida de criada (escrava) na casa da madrasta, pois não tem outro sítio para viver e ali é bem melhor do que enfrentar o mundo sem dinheiro. Todavia, a história muda quando Sophie conhece Benedict num baile de máscaras. Nada revelou da sua identidade e apenas duas horas de estada no baile chegou para perceber que estava perante o seu príncipe encantado. Mas a meia-noite chegou e o encantamento acabou, assim como a ordem de expulsão de Amarinta, quando soube que Sophie tinha ido ao baile dos Bridgerton's.

Benedict deixou-a escapar sem sequer saber o seu nome e apenas uma luva revelava que tinha estado na presença da mulher mistério. Procurou-a durante dois anos, mas nada encontrou, nem rasto, até ao dia que salva Sophie de ser violada na casa dos presentes patrões desta.

Sophie nem queria acreditar que ele a tinha encontrado, contudo a desilusão foi total quando ele não a reconheceu sem a máscara. Ainda assim acolheu-a em sua casa como criada e, a afinidade já revelada no baile entre os dois, voltou ao de cima naqueles dias que se seguiram.

Benedict não pode casar com ela, mas pode fazê-la sua amante, mas Sophie não quer, pois como filha ilegítima, não deseja essa sorte para mais ninguém. Farto de ser rejeitado, Benedict tentou afastar-se, mas não conseguiu e quando descobre toda a verdade de Sophie, fica tremendamente magoado.

Sophie não queria magoá-lo, mas... Sair da casa dos Bridgerton era o melhor que tinha a fazer. Embora a tratassem como uma igual, ela era apenas uma criada, e nunca passaria disso. Quando decide ir embora, Amarinta apanha-a e manda-a prender. Sophie nem queria acreditar na sua pouca sorte e, pior, Benedict nunca ia saber onde ela estava.

Já tinha tomado a decisão de casar com ela, fosse qual fosse o estatuto dela, e quando soube que ela estava presa, simplesmente não podia aceitar tal destino para a sua noiva. Soltou-a, falou das poucas e boas a Amarinta, assim como a sua mãe, Violet, e levou Sophie para casa.

Sete anos depois, 3 filhos depois, Sophie anuncia a chegada de um quarto filho... ou filha, para Benedict.

"-Amo-te por tantas razões (...) - Mas uma das coisas que mais amo em ti é o facto de te conheceres a ti mesma. Sabes exactamente quem és e qual o teu valor. Tens princípios, Sophie, e não os contrarias por nada." - pág. 364

Sobre a autora:
Julia Quinn desde cedo dedicou-se à escrita e, desde então, nunca mais parou, acumulando vários bestsellers traduzidos em vinte cinco línguas. Venceu três prémios RITA e dois prémios Romantic Times. Da série Bridgerton, a autora já publicou a Crónica de Paixões & Caprichos, Peripécias do Coração, Amor e Enganos e A Grande Revelação. Actualmente, vive com a família nos Estados Unidos. Para mais informações: www.juliaquinn.com

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Arte de Amarna

Busto colossal de Akhenaton
Nos primeiros anos do seu reinado parecia que nada tinha mudado, mas na sua corte, o novo faraó encorajou ideias que mais tarde transformaram a sociedade egípcia, nomeadamente a arte. Segundo os artistas, tinha sido o próprio faraó a ensiná-los esta arte cheia de sensualidade e de movimento, características nunca antes usadas na arte do Egipto. Subitamente passou a ver-se a celebração do feio. 

No segundo ano do seu reinado, o faraó abandonou os deuses egípcios tradicionais, principalmente Amon, o seu principal rival. Os templos foram encerrados e os sacerdotes desapropriados, levando estes a ficarem muito enraivecidos e desagradados. Proibiu o uso dos nomes dos deuses e o uso do plural na palavra «deus». Até maet, símbolo da justiça e da verdade, foi esquecida. Para este faraó havia apenas um deus, Aton, representado por um disco solar. Amen-hotep IV terá sido o primeiro monoteísta da história do Egipto e, também, seria o único sacerdote da sua religião. De repente, todos os dogmas criados durante o reinado dourado do pai foram destruídos. Abdicou do seu nome, Amen-hotep IV «Amon está satisfeito», passando a designar-se Akhenaton, «O que é útil a Aton».

O filho de Amen-hotep III não provocou só a desordem na arte e na religião, mas em todo o funcionamento do país - só poderia ter sido provocado por alguém muito determinado. Para assegurar a ruptura com o passado, ordenou a construção de uma cidade, no deserto, a norte de Tebas, nunca antes habitada, conhecida, actualmente, por Amarna. Ao abandonar Tebas, Akhenaton podia escapar à alta influência dos sacerdotes do Egipto, pois a antiga capital tinha-se tornado uma ameaça para o rei. Akhenaton, a família real, a corte, os escribas, os soldados e os artesãos seguem, então, para o novo lugar desértico. Dezenas milhares de pessoas abandonaram Tebas para se mudarem para Amarna, uma viagem de trezentos quilómetros. Se Akhenaton decidiu que queria viver lá, todos teriam de segui-lo. Amarna foi construída numa extensão de treze quilómetros ao longo da margem do rio Nilo de modo a ter espaços amplos e livres. Toda a cidade era um palco onde o faraó mostrava a sua devoção a Aton.

A arte de Akhenaton rompeu com todas as convenções estabelecidas anteriormente na realeza. Uma das obras que marca a representação do rei num estilo único é a escultura colossal de Akhenton, no templo de Amon-Ré, de Karnak. O rei é representado com um pescoço longo e delgado, feições do rosto mais realistas e não idealistas, olhos oblíquos, nariz e queixo pronunciados, lábios proeminentes, ombros estreitos, falha de musculatura, clavículas saídas, seio efeminado, ancas e ventre salientes, braços e pernas esguias. Alguns estudiosos ligam esta descrição física do rei com uma possível mal formação congénita.

«Existe na arte amarniana um gosto pela ornamentação brilhante, podendo ver-se inúmeros objectos do quotidiano real com incrustações em vidro ou faiança, que reproduzem frutos ou animais multicolores. Sobressai a preferência por reproduções de cenas com imagens retiradas do mundo animal e vegetal (…).» 

Durante o reinado, Akhenaton governou o novo regime com Nefertiti, estando esta quase sempre presente. Tal como a sua sogra, a rainha Tié, Nerfetiti teve um papel activo na vida pública. Era quase tão importante como Akhenaton, sendo representada em relevos a punir o inimigo, como um faraó. Nefertiti era também a única rainha descrita por Akhenaton com grande intimidade através de versos de amor. Como o seu marido, também Nefertiti é representado com ancas e nádegas salientes simbolizando a sua capacidade reprodutiva. No entanto, Nefertiti não era a única que recebia o amor do faraó, mas também as suas seis filhas. No relevo Akhenaton e a sua família vemos as princesas retratadas numa envolvente cheia de amor. Akhenaton e Nefertiti estão sentados de frente um para o outro, e brincam com as filhas, que trepam pelos braços dos pais. A família real está a receber a vida do disco solar através dos seus raios solares com mãos nas extremidades segurando o símbolo da vida, ankh. Nunca antes tinha sido visto uma família real representada aparentando tanta humanidade e verdade.  

Akhenaton e a sua família 

Após doze anos de reinado, Akhenaton e o seu regime começou a desmoronar-se com a morte de vários elementos da família real (Nefertiti, rainha Tié e uma das suas filhas). Contudo, isso não impediu que o faraó aumentasse as perseguições religiosas, tornando-se o primeiro opressor religioso da história. Criou um clima de intimidação patente, pois o que acreditou, durante toda a sua vida, levou-o ao fanatismo. O nome do Amon-Rá e outros deuses eram destruídos por todo lado pelos cinzéis dos homens enviados por Akhenaton. Chegou mesmo a retirar a parte do nome do seu pai que referia Amon. Focado no seu fanatismo religioso, ignorou os pedidos de ajuda dos seus aliados. 

Em 1356 a. C., Akhenaton morreu e os trabalhadores da cidade Amarna abandonaram as suas obras ficando inacabadas. Toda a população de Amarna volta novamente para Tebas para estabelecer a antiga ordem. A cidade de Amarna ficou abandonada e, mais tarde, toda a arte foi destruída. 

Durante o emergir do caos surgiu um novo rei, um jovem de nove anos, que se chamava Tutankhaton, contudo o seu nome iria altera-se para Tutankhamon. Foi uma personalidade entre a era de Amarna e o pós-Amarna. Não há dúvida que respirava o ar de Amarna, foi imbuído dessa inovação intelectual. Por outro lado, também era o primeiro faraó após Akhenaton. Era uma marioneta nas mãos dos novos líderes do Egipto. Foi muito importante proclamar que a ordem estava a ser restabelecida e tudo ia voltar a ser como era. Isto foi o recuperar de Amon, dos deuses tradicionais e da ordem antiga. Todo o poder de Amon-Rá e o seu legado foi recuperado e a heresia de Akhenaton foi negligenciada da história. Quando fez dezanove anos e podia governar por direito próprio tudo parecia ter regressado à normalidade. Mas nesse ano de forma misteriosa Tutankhamon morreu. Pensa-se que possa ter sido assassinado, mas não se sabe por quem ou porquê. Este faraó por pouco não passa ao lado da história do Egipto de tão insignificante foi o seu reinado. A descoberta do seu magnífico túmulo no Vale dos Reis deu-lhe a fama tardia.

"Iluminada " - Opinião

«Cansada de encontros com egocêntricos, a designer de interiores Pamela Gray está quase a desistir dos homens. Quer ser tratada como uma deusa - preferencialmente por um deus. Quando exprime o seu desejo, invoca inconscientemente a deusa Ártemis, que possui alguns truques na sua manga celestial... Os gémeos Ártemis e Apolo foram enviados para o Reino de Las Vegas para testar as suas habilidades. A sua primeira missão é realizar o desejo de Pamela. Então Ártemis faz do irmão o voluntário. Afinal, quem seria melhor do que o lindo Deus da Luz para levar amor àquela mulher solitária? Deveria ser uma experiência, mas na Cidade do Pecado, onde a vida é um risco, tanto o deus como a mortal estão prestes a apostar um valor alto no jogo do amor.»

Ficha técnica:
Autor: P. C. Cast
Editor: ASA
Data de lançamento: Julho de 2013
ISBN: 9789895579389
Nº de páginas: 360

Opinião:

O estranho desejo de Pamela em ter um pouco de romance na sua vida aprisionou-a para sempre ao imortal Apolo. Claro que ele é fantástico, não fosse esta uma história dos deuses do Olimpo, e como tal, ela não se arrependeu do seu desejo.

O lindo e sexy Apolo estava cansado de não ver sentido na sua vida sem amor, e, como tal, deixa-se ser arrastado pela sua irmã, Ártemis, para o reino de Las Vegas (que tendência é esta ir para Las Vegas sempe que se quer borga? Até acho estranho não terem casado na igreja do Elvis!).

Pamela não pretendia pedir aquele desejo estúpido de romance, mas simplesmente estava farta daquele seu passado com Duane, um marido muito obsessivo por controlo, até para pendurar um quadro. 

Quando conhece Apolo, a vida de Pamela dá uma volta de 180º graus, passando a conviver com ele e a sua irmã durante uma semana. Estar com Apolo, a designer de interiores ainda pode suportar, ainda que se sinta magoada por ele não lhe ter dito que era um deus, mas Ártemis? Com aquele feitiosinho? Não! 

Contudo, a semana passa e Pamela está cada vez mais apaixonada e deixa de se preocupar com o futuro, pois simplesmente quer saborear o seu Deus da Luz. E, por incrível que pareça, Ártemis não é assim tão impossível aturar, ficando amiga desta na hora de camuflar as olheiras da borga.

Baco, o cupido da história, decide que não pode suportar partilhar o seu reino de Las Vegas com os irmãos perfeitos e, para isso, não se acanha em meios para os prejudicar. Apodera-se de uma mortal e atropela Pamela, deixando-a morta nos braços de Apolo.

Uma coisa Apolo sabia: não podia viver sem Pamela. Agarra na sua alma e leva-a a Hades, Deus do Mundo Subterrâneo e dos Mortos, para deixá-la viver na morte. Ainda assim, não basta para o Deus da música e da cura, e propõe a Pamela retornarem numa vida mortal para terem a oportunidade de serem felizes. Ela aceita.

Ele é Jordan. Ela Kristin. As almas encontram-se sempre! 

"-O que é que tu és?

- A tua alma gémea."

Sobre a autora:

P. C. Cast, apaixonada por cavalos e mitologia, decidiu dedicar-se à escrita após leccionar em liceus durante quinze anos. Actualmente, vive em Oklahoma com a sua filha.