Busto colossal de Akhenaton |
No segundo ano do seu reinado, o faraó abandonou os deuses
egípcios tradicionais, principalmente Amon,
o seu principal rival. Os templos foram encerrados e os sacerdotes
desapropriados, levando estes a ficarem muito enraivecidos e desagradados.
Proibiu o uso dos nomes dos deuses e o uso do plural na palavra «deus». Até maet,
símbolo da justiça e da verdade, foi esquecida. Para este faraó havia apenas um
deus, Aton, representado por um disco solar. Amen-hotep IV terá sido o primeiro
monoteísta da história do Egipto e, também, seria o único sacerdote da sua
religião. De repente, todos os dogmas criados durante o reinado dourado do pai
foram destruídos. Abdicou do seu nome, Amen-hotep IV «Amon está satisfeito»,
passando a designar-se Akhenaton, «O que é útil a Aton».
O filho de Amen-hotep III não provocou só a desordem na
arte e na religião, mas em todo o funcionamento do país - só poderia ter sido
provocado por alguém muito determinado. Para assegurar a ruptura com o passado,
ordenou a construção de uma cidade, no deserto, a norte de Tebas, nunca antes
habitada, conhecida, actualmente, por Amarna. Ao abandonar Tebas, Akhenaton
podia escapar à alta influência dos sacerdotes do Egipto, pois a antiga capital
tinha-se tornado uma ameaça para o rei. Akhenaton, a família real, a corte, os
escribas, os soldados e os artesãos seguem, então, para o novo lugar desértico.
Dezenas milhares de pessoas abandonaram Tebas para se mudarem para Amarna, uma
viagem de trezentos quilómetros. Se Akhenaton decidiu que queria viver lá,
todos teriam de segui-lo. Amarna foi construída numa extensão de treze
quilómetros ao longo da margem do rio Nilo de modo a ter espaços amplos e
livres. Toda a cidade era um palco onde o faraó mostrava a sua devoção a Aton.
A arte de Akhenaton rompeu com todas as convenções
estabelecidas anteriormente na realeza. Uma das obras que marca a representação
do rei num estilo único é a escultura colossal de Akhenton, no templo de
Amon-Ré, de Karnak. O rei é representado com um pescoço longo e delgado,
feições do rosto mais realistas e não idealistas, olhos oblíquos, nariz e
queixo pronunciados, lábios proeminentes, ombros estreitos, falha de
musculatura, clavículas saídas, seio efeminado, ancas e ventre salientes,
braços e pernas esguias. Alguns estudiosos ligam esta descrição física do rei
com uma possível mal formação congénita.
«Existe na arte amarniana um gosto pela ornamentação
brilhante, podendo ver-se inúmeros objectos do quotidiano real com incrustações
em vidro ou faiança, que reproduzem frutos ou animais multicolores. Sobressai a
preferência por reproduções de cenas com imagens retiradas do mundo animal e
vegetal (…).»
Durante o reinado, Akhenaton governou o novo regime com
Nefertiti, estando esta quase sempre presente. Tal como a sua sogra, a rainha
Tié, Nerfetiti teve um papel activo na vida pública. Era quase tão importante
como Akhenaton, sendo representada em relevos a punir o inimigo, como um faraó.
Nefertiti era também a única rainha descrita por Akhenaton com grande intimidade
através de versos de amor. Como o seu marido, também Nefertiti é representado
com ancas e nádegas salientes simbolizando a sua capacidade reprodutiva. No
entanto, Nefertiti não era a única que recebia o amor do faraó, mas também as
suas seis filhas. No relevo Akhenaton
e a sua família vemos as
princesas retratadas numa envolvente cheia de amor. Akhenaton e Nefertiti estão
sentados de frente um para o outro, e brincam com as filhas, que trepam pelos
braços dos pais. A família real está a receber a vida do disco solar através
dos seus raios solares com mãos nas extremidades segurando o símbolo da vida, ankh. Nunca antes tinha sido
visto uma família real representada aparentando tanta humanidade e verdade.
Akhenaton e a sua família |
Após doze anos de reinado, Akhenaton e o seu regime começou
a desmoronar-se com a morte de vários elementos da família real (Nefertiti,
rainha Tié e uma das suas filhas). Contudo, isso não impediu que o faraó
aumentasse as perseguições religiosas, tornando-se o primeiro opressor
religioso da história. Criou um clima de intimidação patente, pois o que
acreditou, durante toda a sua vida, levou-o ao fanatismo. O nome do Amon-Rá e
outros deuses eram destruídos por todo lado pelos cinzéis dos homens enviados
por Akhenaton. Chegou mesmo a retirar a parte do nome do seu pai que referia
Amon. Focado no seu fanatismo religioso, ignorou os pedidos de ajuda dos seus
aliados.
Em 1356 a. C., Akhenaton morreu e os trabalhadores da
cidade Amarna abandonaram as suas obras ficando inacabadas. Toda a população de
Amarna volta novamente para Tebas para estabelecer a antiga ordem. A cidade de
Amarna ficou abandonada e, mais tarde, toda a arte foi destruída.
Durante o emergir do caos surgiu um novo rei, um jovem de
nove anos, que se chamava Tutankhaton, contudo o seu nome iria altera-se para
Tutankhamon. Foi uma personalidade entre a era de Amarna e o pós-Amarna. Não há
dúvida que respirava o ar de Amarna, foi imbuído dessa inovação
intelectual. Por outro lado, também era o primeiro faraó após Akhenaton.
Era uma marioneta nas mãos dos novos líderes do Egipto. Foi muito importante
proclamar que a ordem estava a ser restabelecida e tudo ia voltar a ser como
era. Isto foi o recuperar de Amon, dos deuses tradicionais e da ordem antiga.
Todo o poder de Amon-Rá e o seu legado foi recuperado e a heresia de Akhenaton
foi negligenciada da história. Quando fez dezanove anos e podia
governar por direito próprio tudo parecia ter regressado à normalidade.
Mas nesse ano de forma misteriosa Tutankhamon morreu. Pensa-se que possa ter sido
assassinado, mas não se sabe por quem ou porquê. Este faraó por pouco não passa
ao lado da história do Egipto de tão insignificante foi o seu reinado. A
descoberta do seu magnífico túmulo no Vale dos Reis deu-lhe a fama tardia.
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