sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Arte de Amarna

Busto colossal de Akhenaton
Nos primeiros anos do seu reinado parecia que nada tinha mudado, mas na sua corte, o novo faraó encorajou ideias que mais tarde transformaram a sociedade egípcia, nomeadamente a arte. Segundo os artistas, tinha sido o próprio faraó a ensiná-los esta arte cheia de sensualidade e de movimento, características nunca antes usadas na arte do Egipto. Subitamente passou a ver-se a celebração do feio. 

No segundo ano do seu reinado, o faraó abandonou os deuses egípcios tradicionais, principalmente Amon, o seu principal rival. Os templos foram encerrados e os sacerdotes desapropriados, levando estes a ficarem muito enraivecidos e desagradados. Proibiu o uso dos nomes dos deuses e o uso do plural na palavra «deus». Até maet, símbolo da justiça e da verdade, foi esquecida. Para este faraó havia apenas um deus, Aton, representado por um disco solar. Amen-hotep IV terá sido o primeiro monoteísta da história do Egipto e, também, seria o único sacerdote da sua religião. De repente, todos os dogmas criados durante o reinado dourado do pai foram destruídos. Abdicou do seu nome, Amen-hotep IV «Amon está satisfeito», passando a designar-se Akhenaton, «O que é útil a Aton».

O filho de Amen-hotep III não provocou só a desordem na arte e na religião, mas em todo o funcionamento do país - só poderia ter sido provocado por alguém muito determinado. Para assegurar a ruptura com o passado, ordenou a construção de uma cidade, no deserto, a norte de Tebas, nunca antes habitada, conhecida, actualmente, por Amarna. Ao abandonar Tebas, Akhenaton podia escapar à alta influência dos sacerdotes do Egipto, pois a antiga capital tinha-se tornado uma ameaça para o rei. Akhenaton, a família real, a corte, os escribas, os soldados e os artesãos seguem, então, para o novo lugar desértico. Dezenas milhares de pessoas abandonaram Tebas para se mudarem para Amarna, uma viagem de trezentos quilómetros. Se Akhenaton decidiu que queria viver lá, todos teriam de segui-lo. Amarna foi construída numa extensão de treze quilómetros ao longo da margem do rio Nilo de modo a ter espaços amplos e livres. Toda a cidade era um palco onde o faraó mostrava a sua devoção a Aton.

A arte de Akhenaton rompeu com todas as convenções estabelecidas anteriormente na realeza. Uma das obras que marca a representação do rei num estilo único é a escultura colossal de Akhenton, no templo de Amon-Ré, de Karnak. O rei é representado com um pescoço longo e delgado, feições do rosto mais realistas e não idealistas, olhos oblíquos, nariz e queixo pronunciados, lábios proeminentes, ombros estreitos, falha de musculatura, clavículas saídas, seio efeminado, ancas e ventre salientes, braços e pernas esguias. Alguns estudiosos ligam esta descrição física do rei com uma possível mal formação congénita.

«Existe na arte amarniana um gosto pela ornamentação brilhante, podendo ver-se inúmeros objectos do quotidiano real com incrustações em vidro ou faiança, que reproduzem frutos ou animais multicolores. Sobressai a preferência por reproduções de cenas com imagens retiradas do mundo animal e vegetal (…).» 

Durante o reinado, Akhenaton governou o novo regime com Nefertiti, estando esta quase sempre presente. Tal como a sua sogra, a rainha Tié, Nerfetiti teve um papel activo na vida pública. Era quase tão importante como Akhenaton, sendo representada em relevos a punir o inimigo, como um faraó. Nefertiti era também a única rainha descrita por Akhenaton com grande intimidade através de versos de amor. Como o seu marido, também Nefertiti é representado com ancas e nádegas salientes simbolizando a sua capacidade reprodutiva. No entanto, Nefertiti não era a única que recebia o amor do faraó, mas também as suas seis filhas. No relevo Akhenaton e a sua família vemos as princesas retratadas numa envolvente cheia de amor. Akhenaton e Nefertiti estão sentados de frente um para o outro, e brincam com as filhas, que trepam pelos braços dos pais. A família real está a receber a vida do disco solar através dos seus raios solares com mãos nas extremidades segurando o símbolo da vida, ankh. Nunca antes tinha sido visto uma família real representada aparentando tanta humanidade e verdade.  

Akhenaton e a sua família 

Após doze anos de reinado, Akhenaton e o seu regime começou a desmoronar-se com a morte de vários elementos da família real (Nefertiti, rainha Tié e uma das suas filhas). Contudo, isso não impediu que o faraó aumentasse as perseguições religiosas, tornando-se o primeiro opressor religioso da história. Criou um clima de intimidação patente, pois o que acreditou, durante toda a sua vida, levou-o ao fanatismo. O nome do Amon-Rá e outros deuses eram destruídos por todo lado pelos cinzéis dos homens enviados por Akhenaton. Chegou mesmo a retirar a parte do nome do seu pai que referia Amon. Focado no seu fanatismo religioso, ignorou os pedidos de ajuda dos seus aliados. 

Em 1356 a. C., Akhenaton morreu e os trabalhadores da cidade Amarna abandonaram as suas obras ficando inacabadas. Toda a população de Amarna volta novamente para Tebas para estabelecer a antiga ordem. A cidade de Amarna ficou abandonada e, mais tarde, toda a arte foi destruída. 

Durante o emergir do caos surgiu um novo rei, um jovem de nove anos, que se chamava Tutankhaton, contudo o seu nome iria altera-se para Tutankhamon. Foi uma personalidade entre a era de Amarna e o pós-Amarna. Não há dúvida que respirava o ar de Amarna, foi imbuído dessa inovação intelectual. Por outro lado, também era o primeiro faraó após Akhenaton. Era uma marioneta nas mãos dos novos líderes do Egipto. Foi muito importante proclamar que a ordem estava a ser restabelecida e tudo ia voltar a ser como era. Isto foi o recuperar de Amon, dos deuses tradicionais e da ordem antiga. Todo o poder de Amon-Rá e o seu legado foi recuperado e a heresia de Akhenaton foi negligenciada da história. Quando fez dezanove anos e podia governar por direito próprio tudo parecia ter regressado à normalidade. Mas nesse ano de forma misteriosa Tutankhamon morreu. Pensa-se que possa ter sido assassinado, mas não se sabe por quem ou porquê. Este faraó por pouco não passa ao lado da história do Egipto de tão insignificante foi o seu reinado. A descoberta do seu magnífico túmulo no Vale dos Reis deu-lhe a fama tardia.

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