sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O estudo laboratorial das obras de arte em Portugal - Silva Porto

As obras de Silva Porto foram alvo de vastos exames laboratoriais, pois a dúvida sobre a autenticidade das assinaturas em quadros do pintor prevalecia. Obras como o Pequeno esboço de paisagem, Seara, Praia dos Pescadores, Uma Marinha, Praia de Capri e Paisagem tirada da Charneca de Belas ao pôr-do-Sol faziam parte do leque de pinturas duvidosas e é sobre estas que vamos debruçar-nos.

Das quatro primeiras obras, a fotografia à luz rasante[1] deu-nos algumas informações, como as várias grafias da sua pintura, que correspondem à sua temporada em França em 1783-89, e em Portugal entre a década de 80 e 90. Na obra Paisagem tirada da Charneca de Belas ao pôr-do-Sol, a estratografia das camadas pictóricas[2] foi o método utilizado, sendo a saia de uma das mulheres o elemento escolhido para ser alvo da remoção. Esta revelou «um tratamento muito cuidadoso na sua elaboração»[3], para além das combinações de azuis, brancos e vermelhos para alcançar o resultado hoje visível na obra.

Outras obras de Silva Porto foram analisadas para provar a sua autenticidade, como foi o caso das pinturas Dunas e Riacho pertencentes à Casa Museu Egas Moniz, em Avanca. Segundo Varela Aldemira, a obra específica Dunas já denunciava as dúvidas quanto à sua autenticidade. Foram sujeitas à espectrometria de fluorescência de raios X e os resultados mostraram: a ausência de cobalto e de crómio no verde e a diferença da assinatura característica do pintor [4]. Concluindo, estas obras, provavelmente, não são do pintor Silva Porto.

Macrofotografia à luz rasante da obra Pequeno esboço de paisagem, Silva Porto



Macrofotografia à luz rasante da da obra Seara, Silva Porto





Macrofotografia à luz rasante da obra Praia dos Pescadores, Silva Porto



Macrofotografia à luz rasante da obra Uma marinha, Silva Porto




Dunas, Silva Porto






Riacho, Silva Porto







[1] A fotografia à luz rasante permite ver a superfície da matéria, a técnica e os detalhes feitos por incisão.
[2] A pintura é composta por várias camadas: suporte, preparação, desenho, camada pictórica e verniz e com este método sabemos as camadas que cada pintura tem ou não. Permite ainda identificar os materiais utilizados no suporte e na camada pictórica e como foi preparada.
[3] João M. Peixoto Cabral, “Exame científico de pinturas de cavalete” in Colóquio/Ciências, nº 16, 1995, p. 79
[4] «Há que notar (…) a letra é inclinada para a direita, a forma do S de modo algum se compara com a forma algo estilizada adoptada por Silva Porto, o r liga ao t na base deste e não a meia altura e o traço inferior prolonga-se mais para a esquerda do que o habitual» in João M. Peixoto Cabral, António João Cruz, “As assinaturas e os formatos das pinturas de Silva Porto” in Exposição Comemorativa do Centenário da Sua Morte, Museu Nacional Soares dos Reis, Instituto Português dos Museus, Lisboa, 1993

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