Pablo Picasso, Guitarre

O espanhol Pablo Picasso nasceu em Málaga, no dia 25 de Outubro de 1881, filho de um professor de desenho, Don José Ruiz Blasco e Dona María Picasso y López. Frequentou a escola de arte “ La Lonja”, em Barcelona, em 1895, e dois anos mais tarde, a academia San Fernando.

Em 1904, Picasso mudou-se para Paris, onde viria a pintar em 1907 Les Demoiselles d’Avignon. Após as primeiras fases da sua pintura independente, a azul e a rosa, Picasso fundou o Cubismo.

Pouco tempo depois, Picasso conheceu, através de Apollinaire, Georges Braque, com quem passou a pintar e a partilhar as mesmas preocupações artísticas. Procuravam mostrar no território material da tela os vários lados dos objectos, pintando não só aquilo que viam, mas também o que sabiam que existia fora do alcance dos olhos, usando uma paleta quase monocromática.

Em 1912, Picasso e Braque elevaram o Cubismo a um nível nunca antes visto conhecido por Cubismo Sintético. O objecto é todo desmontado e fica irreconhecível ao olhar atento do espectador. A novidade apresenta-se na introdução de materiais comuns, como papeis, tecidos, corda, entre outros. A cor, que esteve ausente no Cubismo Analítico, volta novamente às telas. Em 1921, Os três músicos encerram o discurso sintético.

Entretanto, Picasso trabalhou para os ballets russos (Retrato da Olga), fez uma série de obras como tema a história contemporânea (Guerra e Paz) e adotou algumas obras à sua pintura (As Meninas, de Velazquez).

Pablo Picasso faleceu a 8 de Abril de 1973, após ter revolucionado a História da Arte com pinturas como Les Demoiselles d’Avignon e Guernica. Para além da sua faceta de pintor, certamente a mais conhecida, Picasso foi também escultor e ceramista.

Guitarre, 1913

Pablo Picasso (1881-1973)

Guitarre, 1913

Carvão, óleo, giz, jornais colados

66,3 x 49,5

Museum of Modern Art Nova Iorque

Quando olhamos para a obra Guitarre de Pablo Picasso, datada de 1913, início do Cubismo Sintético, a primeira coisa que chama a atenção é a guitarra fragmentada. Todavia, só percebemos que é uma guitarra, porque os elementos se conjugam na tela no mesmo plano. Podemos ainda afirmar que o título reforça a ideia que estamos perante uma guitarra.

O uso dos jornais, papel de parede e o papel colorido remonta-nos a um determinado momento histórico: a Revolução Industrial, no século XVIII, na Europa, tendo como país pioneiro a Inglaterra. Entram no mundo da arte por serem materiais do quotidiano, que as pessoas reconhecem à partida e são transformados em obra de arte. Esta introdução de materiais comuns vai dar azo a uma nova complementaridade no curso da arte, pois até agora eram alheios a esta. 

Surge, então, o conflito entre aquilo que é produto da época e faz parte da cultura popular e do quotidiano e a pintura tradicional com uma herança pesada, que prende o observador pela sua grandeza representativa na História da Arte desde muito cedo.

Estamos perante uma obra que não é abstracta, pois há traços iconográficos que permitem distinguir naqueles elementos apresentados uma guitarra – a forma. A madeira que reconhecemos no instrumento artístico dá lugar ao papel de parede na tela, que por acaso é castanho, a cor que facilmente ligamos ao objecto no quotidiano. 

Contudo, o padrão volta a repetir-se no lado direito desta, mas já não é a guitarra, podendo ser, simplesmente, parte integrante do fundo. Os padrões repetidos não implicam, nesta obra, ter o mesmo significado. Enquanto o primeiro padrão se identifica com a madeira da guitarra, o segundo pode não ter a mesma dependência.

Podemos concluir que Pablo Picasso não tinha intenção de dar um valor intrínseco a cada elemento presente na tela. O valor é apenas assumido dentro do contexto, ou seja, só percebemos que é uma guitarra quando a obra está completa e tem todos os elementos. 

A realidade e representação juntam-se nestes tableaux-objects, assumindo relações de vanguarda. A realidade já não precisa de ser imitada, pois ela passa a representar-se.