domingo, 14 de setembro de 2014

Feminismo - Os Primeiros Passos

O Feminismo nasceu no século XVIII com o Iluminismo, e tinha como fim eliminar o papel passivo das mulheres na sociedade. Este movimento é um ‘filho’ não desejado da era da razão, pois pretendia-se apenas igualdade entre os homens, deixando de parte as reivindicações femininas pela mesma[1].
Podemos encontrar o Feminismo dividido em três vagas distintas no tempo: a primeira vaga situa-se a meio do século XIX, a segunda por volta dos anos 60 até meados de 80 e a última na década de 90 até ao virar do século.
Em 1789, todas as espectativas e exigências da mulher no Iluminismo são agoiradas, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que exclui qualquer papel da mulher na sociedade, afirmando que esta deve se ocupar da vida doméstica e deixar a vida política para os seus pais, irmãos e maridos.
Vemos, assim, surgir a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em 1791, da autoria de Olympe de Gouges, A vindication of the rights of women, em 1792, por Mary Wollstonecraft, que pretendia a independência económica das mulheres, que, por sua vez, traria uma maior igualdade desta perante os homens[2].
No século XIX, com a Revolução Industrial, o movimento feminista tornou-se mais forte. Faz-se menção à necessidade de uma sociedade igual, entre géneros, raças, profissões e segmentos sexuais.
Em 1949, Simone Beauvoir publica a sua obra O Segundo Sexo, que foi alvo de grandes represálias e injúrias públicas. Todavia, esta foi a obra que representou a história do feminismo nas décadas seguintes e, segundo Manuel Tavares:
 «Rasga o véu do determinismo biológico e explica que as mulheres não têm que estar amarradas a nada, a não ser elas próprias como sujeitos autónomos e senhoras do direito de decidir sobre as suas vidas».[3]


Para além de Simone Beauvoir, outros livros difundiram-se pela Europa, como The Female Mystique, em 1963, de Betty Friedan, The Dialectic of Sex, em 1974, de Shulamith Firestone, Patriarcal Attitudes, em 1979, de Germaine Greer, entre muitos outros.           
No século XX, o Feminismo em Portugal luta pelo “direito à educação, ao trabalho, (…) ao voto, (…) alterações legislativas sobre o divórcio, o casamento e a filiação”.[4]
Na década de 20, surgem os primeiros congressos feministas, um em 1924, o outro quatro anos mais tarde, que, por sua vez, correspondem a uma maior adesão das mulheres ao feminismo, não só nacional, mas também ao movimento em si numa esfera internacional. Todavia, também o Feminismo em Portugal vai encontrar uma forte oposição na Igreja Católica e nos grupos políticos., com grande destaque pelo Estado Novo, em 1933.
Com a acentuação do Estado Novo[5], o Feminismo abrandou, mas não parou e, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, ocorreram várias festas populares com o fim da guerra, do fascismo e do negativismo que dominava a Europa, onde as mulheres se fizeram sentir. Porém, Salazar retaliou e incentivou as mulheres de apoio ao regime a Salazar a virem para as ruas gritarem quem salvou Portugal da guerra.
Pouco tempo depois, um revés parecia estar para chegar com a candidatura de Humberto Delgado, e este faz anunciá-lo no artigo de jornal República intitulado “À’s mulheres de Portugal”:
“De há muito acabou o tempo em que era o lar cárcere da mulher, a sua clausura. Hoje o lar continua a ser, porque é da natureza humana, o verdadeiro centro de uma vida dignamente vivida, mas já não impede a mulher de reconquistar o direito à cultura, de alargar o seu interesse e o seu horizonte a outras actividades”.[6]
Com Humberto Delgado na senda política, o regime salazarista voltou a procurar o apoio das mulheres, pois este só recorria ao seu auxílio em campanhas eleitorais, como ocorrera na campanha eleitoral de apoio ao Marechal Carmona Rodrigues contra Norton de Matos, e como ocorria agora com Américo Tomás e Humberto Delgado.
Até à sua saída da política, em 1970, Salazar tentou ainda apoiar-se na elite feminina. Vemos surgir o Movimento Nacional Feminino, fundado por 25 mulheres, que tinha como lema “Por Deus e pela Pátria”.



[1] Teóricos, como Rousseau, “apenas pretendiam aplicar os conceitos de Igualdade a grupos definidos da sociedade, excluindo mulheres”. in NOGUEIRA, Conceição, SILVA, Sofia Marques da, Impressões sobre Feminismo, Edições UMAR, 2003, p. 9
[2] Só em 1920, as mulheres tiveram acesso ao voto: «Section 1 – The right of citizens of the United States to vote shall not be denied or abridged by the United States or by any Sate account of sex». in “Suffrage Wins in Senate; Now Goes to States”, in New York Times, a 5 de Junho de 1919 (Consult. 23/03/14), Disponível em:
http://www.readworks.org/sites/default/files/passages/1420_excerpt_from_nyt_article_suffrage_wins_in_senate_now_goes_to_states.pdf
[3] TAVARES, Maria Manuela, Feminismos em Portugal (1947-2007), Tese de Doutoramento em Estudos sobre as Mulheres Especialidade em História das Mulheres e do Género, Universidade Aberta, 2008, p. 49
[4] IDEM, p. 86
[5] Para o acesso ao exercício da enfermagem, assim como do ensino básico, as mulheres deveriam ser solteiras ou viúvas sem filhos, não estando previstas as mesmas obrigações aos candidatos masculinos. Até 1963, altura em surge o decreto-lei nº 44 923, que autoriza o casamento entre enfermeiras, ocorreram várias prisões, como a da enfermeira Isabel Borges Coelho. Esta foi condenada a dois anos de prisão
[6] DELGADO, Humberto, “Às mulheres de Portugal”, in República, 15 de Maio de 1958 (Consult. 23/03/14), Disponível em:
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/HumbertoDelgado/Republica/Apoios/RPreto/RPreto_item1/P2.html

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